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Educação Emancipadora e a Promoção do Bem Viver: conexões entre educação popular, cultura, compromisso político e saúde coletiva

  • 13 de novembro de 2024
  • Livia

O debate Educação emancipadora e a promoção do bem viver, realizado na manhã do dia 13 de novembro, foi rico em perspectivas e trouxe à tona a urgência de repensarmos nossas práticas pedagógicas, nossas relações com os outros e com a natureza, e os modelos de cuidado que promovem a saúde e o bem-estar coletivo. A mandala presente no centro do espaço trazia símbolos que reforçam a compreensão da relação entre luta política, arte e ancestralidade: bandeiras de movimentos sociais, pandeiros, cartazes, chocalhos, chita, tudo com as cores da diversidade de nosso país.

Foram convidados para conduzir a reflexão o coordenador do Núcleo de Educação Popular, Cuidado e Participação em Saúde (Angicos) da Fiocruz Brasília, Osvaldo Bonetti, a artista e doutora em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás, Mirna Kambeba Omágua Yetê Anaquiri e professor de Enfermagem na Universidade Federal da Bahia e presidente da ABEn-BA, Tiago Parada Costa Silva, mediado por pela professora da Universidade Federal de Catalão (UFCAT) Normalene Sena de Oliveira, o evento destacou as conexões entre a educação popular, a cultura, a saúde coletiva e as lutas sociais.

A educação emancipadora, fundamentada nas ideias de Paulo Freire, foi apontada como essencial para promover um conhecimento crítico que vai além da técnica. Na visão de Osvaldo Bonetti, a educação popular e emancipadora deve ir além da qualidade de vida individual e se expandir para a coletividade, trazendo à tona a importância de se questionar as estruturas sociais e as desigualdades. “O processo de educação não pode ser apenas teórico, mas deve estar sempre em ação, conectando teoria e prática, para que os sujeitos possam atuar ativamente na transformação das condições de vida”, afirmou o pesquisador.

A indígena Anaquiri reforçou a ideia de que o conceito de bem viver transcende o individualismo e abrange um entendimento coletivo de saúde e existência. Para os povos indígenas, o bem viver está intrinsecamente ligado à relação com a terra, com os corpos e com os direitos das comunidades. Ela destacou a necessidade urgente de se ouvir as narrativas e as sabedorias ancestrais, que se encontram em harmonia com a natureza e a diversidade. Para ela, a educação deve ser territorializada, levando em consideração as especificidades de cada povo e território, sem separar os mundos urbanos e rurais. 

O professor Tiago Parada Costa, ao trazer sua experiência com a capoeira, abordou como a prática cultural também é uma forma de resistência e de cuidado com o corpo. Ele ressaltou a importância da atitude na transformação social e da construção de novos espaços pedagógicos que rompam com as estruturas coloniais, racistas e patriarcais. A educação, segundo Tiago, deve se basear na coletividade, no respeito às diversidades e na criação de espaços onde todas as vozes possam ser ouvidas, especialmente as das populações marginalizadas, como os povos indígenas e negros.

Outro ponto central foi a reflexão sobre como a enfermagem se posiciona dentro dessa visão emancipadora. Oswaldo Bonetti provocou os profissionais de saúde a reconsiderarem seu papel na sociedade, destacando que não é suficiente se limitar ao cuidado da doença, sem entender as dimensões sociais e culturais que envolvem o cuidado com o corpo e com a vida. O processo educativo, tanto na formação quanto no exercício da profissão, deve ser político e comprometer-se com a justiça social, combatendo o racismo, o machismo e as desigualdades no acesso à saúde.

A importância de se escutar os saberes ancestrais, como os dos povos indígenas, foi reafirmada em diversos momentos. As questões sobre a educação dos povos quilombolas e a resistência às imposições de uma cultura colonialista também emergiram como desafios centrais para uma educação verdadeira e inclusiva. Como frisou Tiago Parada Costa, é fundamental desconstruir o modelo ocidental de educação e abraçar a diversidade de saberes que existem nas comunidades que formam o Brasil.

No final, ficou claro que a educação emancipadora para o bem viver não é apenas uma prática pedagógica, mas um compromisso político, uma forma de resistência e um caminho para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde a coletividade e o respeito às diversidades sejam a base de todas as relações.