86ª SBEn é aberta com presença de lideranças nacionais e chamado à ação crítica da Enfermagem pela saúde planetária
A cerimônia de abertura da 86ª Semana Brasileira de Enfermagem (SBEn), realizada no dia 12 de maio de maneira online, no canal de Youtube da ABEn, marcou o início de uma jornada de reflexões e mobilizações em torno do tema “Saúde planetária: desafios e a atuação crítica da Enfermagem”. Com forte presença política e institucional, o evento reafirmou o protagonismo da Enfermagem brasileira e a capacidade da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) de articular diferentes setores na defesa da saúde pública, do meio ambiente, das vidas e do trabalho digno, seguro e valorizado
A solenidade contou com representantes do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), do Conselho Nacional de Saúde, da Frente Pela Vida, do CONASEMS, do CONASS, de entidades como a Executiva Nacional de Estudantes de Enfermagem (ENEEnf) e o Fórum Nacional da Enfermagem, da deputada federal Alice Portugal, além de ex-dirigentes e seções estaduais da ABEn. A diversidade de vozes presentes destacou a força coletiva da Enfermagem na formulação de políticas públicas e nas lutas sociais em defesa da vida.
Presidenta destaca a necessidade de justiça climática
Durante a solenidade de abertura da 86ª Semana Brasileira de Enfermagem, a professora Jacinta destacou o papel da Enfermagem frente aos desafios planetários e à crise ambiental global. Em um discurso firme e sensível, ela lembrou que a Enfermagem brasileira representa uma força de trabalho de mais de 3 milhões de profissionais, majoritariamente mulheres, cuja prática está atravessada por desigualdades históricas de gênero, raça e classe. “O trabalho de Enfermagem é exercido em condições precarizadas, herança do escravagismo e do colonialismo, agravada por um neoliberalismo centrado no lucro”, pontuou.
Jacinta reforçou a necessidade de fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) diante das mudanças climáticas e dos impactos diretos na saúde das populações. Ao abordar as pautas da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, defendeu a justiça climática como eixo estruturante para as políticas públicas e conclamou movimentos sociais, escolas e profissionais da saúde a se unirem por um planeta mais cuidador.
“A ABEn com o compromisso de olhar para futuro, luta a quase 100 anos e segue firme nas lutas: por formação de qualidade, presencialidade no ensino como imperativo ético em defesa da vida e do cuidado, valorização e reconhecimento profissional, pagamento do piso, aprovação da PEC 19/2024 que estabelece o piso até 30 horas semanais e a prática qualificada que der conta das necessidades de saúde da população e da integralidade do cuidado. E, por políticas de saúde inclusivas, equitativas e integrais. VIVA A ENFERMAGEM VIVA!”, reforçou a presidenta da ABEn.
Conferência: um chamado para a ação coerente
A programação seguiu com a Conferência de Abertura, ministrada pela professora emérita da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e pesquisadora da História da Enfermagem brasileira, Regina Maria dos Santos, que provocou reflexões profundas sobre os vínculos entre trabalho, meio ambiente e emancipação social.
Com o tema “Saúde planetária: desafios e a atuação crítica da Enfermagem”, a professora Regina destacou que a crise ambiental que ameaça o planeta é multifacetada, desigual e sem precedentes. A conferencista denunciou a estrutura socioeconômica capitalista como responsável pela degradação dos ecossistemas e pela exploração sistemática da força de trabalho.
Ao abordar o conceito de saúde planetária, Regina explicou que ele vai além da noção de saúde global, pois exige uma ruptura com os paradigmas atuais de produção, consumo e exploração. De acordo com a pesquisadora, trata-se de adotar uma nova forma de viver e trabalhar, baseada em solidariedade, sustentabilidade e justiça social.
Segundo ela, o trabalho em saúde, embora essencial, também contribui para a deterioração ambiental, com grande produção de resíduos, uso intensivo de tecnologias e riscos à saúde dos trabalhadores. No entanto, é justamente no trabalho – e especialmente no cuidado prestado pela Enfermagem – que reside a possibilidade de transformação. Para ela, o cuidado de Enfermagem é o produto de um saber acumulado, íntimo da realidade das pessoas e das comunidades. Por isso, tem enorme potencial de promover mudanças sustentáveis.
A educação transformadora foi apontada como o caminho para essa mudança. Para a palestrante, é preciso formar profissionais capazes de pensar criticamente, sentir, escutar e agir com responsabilidade ecológica. Para a professora, é fundamental que cada pessoa se compreenda como agente de mudança e, em sua prática cotidiana, saber que tipo de sociedade estamos ajudando a construir com nosso trabalho.
Na visão da professora Regina, a Enfermagem precisa avançar na construção de uma consciência política individual e coletiva, fortalecendo sua atuação nas entidades de classe e na formação crítica das comunidades. Ela defendeu que a categoria abandone modelos baseados na medicalização e na alienação do trabalho, e abrace uma atuação ética e coerente com a defesa da vida em todas as suas formas. A conferência encerrou com uma convocação inspiradora: “Muitas e diferentes mãos, simples e poderosas, podem fazer o planeta saudável, desde que seja agora”.