Chega de violência contra a Enfermagem: ABEn defende medidas para proteger profissionais
A violência contra trabalhadoras(es) de Enfermagem está se tornando cada vez mais frequente nas unidades de saúde e nos noticiários, configurando-se como uma questão alarmante e um sério problema de saúde pública.
Dados do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) divulgados em outubro de 2024, indicam que aproximadamente 70% das(os) profissionais de Enfermagem no Brasil já sofreram algum tipo de violência no exercício da profissão. Esse cenário se repete nos estados. Um levantamento realizado em 2023 pelo Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) revelou que 80% das(os) trabalhadoras(es) de Enfermagem no estado já foram vítimas de agressões no ambiente de trabalho. No Distrito Federal, um estudo conduzido em 2022 pelo Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF) mostrou que 82,7% dos profissionais sofreram agressões verbais e 15,7% enfrentaram tanto agressões verbais quanto físicas.*
“As(os) trabalhadoras(es) enfrentam diariamente situações de agressão verbal, física e psicológica, muitas vezes sem a proteção e o apoio adequados. Esses dados evidenciam a necessidade urgente de medidas para proteger as(os) profissionais de enfermagem e garantir um ambiente de trabalho seguro. É importante notar que muitas agressões não são denunciadas, seja por medo de represálias ou por descrença na efetividade das punições aos agressores”, afirma a presidenta da ABEn, Jacinta Sena.
“Os casos denunciados deixam evidente a vulnerabilidade dessas(es) trabalhadoras(es) essenciais. Diante desse cenário, a ABEn convoca autoridades e sociedade a se unir para o combate à violência contra trabalhadoras(es) da Enfermagem, elaborando e implementando políticas públicas efetivas e integradas para prevenir tais ocorrências e proteger aqueles que se dedicam ao cuidado da população”, argumenta a presidenta da ABEn.
As motivações para tais agressões são variadas, frequentemente relacionadas à frustração e ansiedade de usuários(as) e seus familiares em relação ao atendimento recebido. A superlotação das unidades de saúde, a escassez de recursos e as longas esperas contribuem para o aumento da tensão, que muitas vezes resulta em comportamentos agressivos direcionados às(aos) profissionais de enfermagem.
A exposição constante à violência tem consequências diretas na saúde mental e física das(os) profissionais de enfermagem, podendo resultar em ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Além disso, a motivação e a produtividade no trabalho são negativamente afetadas, comprometendo a qualidade do atendimento prestado aos usuários(as).
O documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) Caring for those who care – Guide for the development and implementation of occupational health and safety programmes for health workers (2022)**, apresenta diretrizes detalhadas para o enfrentamento da violência contra profissionais de saúde no ambiente de trabalho. Aqui estão as principais medidas recomendadas pelo organismo internacional:
- Relato e registro de incidentes: Os sistemas de saúde devem adotar um programa de gerenciamento de incidentes, com procedimentos padronizados para o relato, investigação, ação corretiva e acompanhamento de casos de violência. O objetivo é criar uma cultura que incentive as denúncias e elimine barreiras que possam impedir os trabalhadores de relatar agressões.
- Cultura de segurança e ambiente livre de culpa: É fundamental que os trabalhadores se sintam seguros para denunciar casos de violência sem medo de retaliação. O documento enfatiza a necessidade de um ambiente livre de culpa, onde os relatos sejam utilizados para implementar melhorias na segurança do local de trabalho.
- Investigação e medidas corretivas: Os incidentes devem ser investigados minuciosamente, analisando suas causas e implementando medidas corretivas para evitar reincidências. Isso inclui treinamentos, mudanças organizacionais e reforço das políticas de segurança.
- Sistema de notificação nacional: o relatório menciona o exemplo de Portugal, onde foi implementado um sistema nacional de notificação online para registrar e monitorar casos de violência contra profissionais de saúde. Esse sistema permite coletar dados anonimizados sobre os incidentes, incluindo informações sobre os agressores, consequências para a vítima e medidas adotadas pela instituição.
- Proteção legal e zero tolerância à violência: o documento recomenda a criação e o fortalecimento de leis e regulamentos que estabeleçam punições rigorosas para atos de violência contra profissionais de saúde. Políticas institucionais devem refletir a postura de tolerância zero em relação a qualquer forma de agressão, incluindo violência física, verbal e assédio sexual.
- Treinamento e capacitação: todos os profissionais de saúde devem receber treinamentos periódicos para lidar com situações de violência e aprimorar habilidades de comunicação e gestão de conflitos. Isso inclui simulações e orientações sobre como agir diante de usuários agressivos.
- Segurança física nas unidades de saúde: a OMS recomenda medidas como a instalação de câmeras de segurança, botões de pânico e maior presença de seguranças em unidades de saúde onde há maior risco de violência.
- Suporte psicológico às vítimas: os profissionais que sofrem violência devem ter acesso a acompanhamento psicológico e apoio jurídico para lidar com o trauma e possíveis repercussões emocionais e legais.
- Envolvimento da comunidade e campanhas de conscientização: o documento sugere o desenvolvimento de campanhas para conscientizar a população sobre a importância do respeito aos profissionais de saúde. Iniciativas como palestras, materiais educativos e mídias sociais podem ajudar a reduzir a incidência de agressões.
- Avaliação contínua e melhoria das políticas: a OMS reforça a necessidade de avaliação contínua das políticas de prevenção à violência, garantindo que as medidas adotadas sejam eficazes e ajustadas conforme necessário.
Para a ABEn, além das ações institucionais, é fundamental que a sociedade como um todo reconheça e valorize o trabalho dos profissionais de enfermagem, entendendo a importância crucial de seu papel na atenção à saúde. “É urgente incentivar ações pelo respeito e para o senso de fraternidade entre as pessoas. Sem isso, a agressividade do individualismo neoliberal fortalece a crença de que se pode usar a violência em qualquer situação de contrariedade.”, afirma a presidenta da ABEn.
Relembre algumas das notícias recentes sobre violência contra profissionais da Enfermagem em todo o Brasil:
São Carlos (SP): Em fevereiro de 2025, uma técnica de enfermagem de 30 anos relatou ter sido ameaçada por um usuário enquanto trabalhava na Santa Casa. O incidente ocorreu durante o atendimento, quando o usuário proferiu ameaças contra a profissional. Detalhes adicionais sobre o motivo das ameaças ou as medidas tomadas não foram divulgados. Dourados (MS): Em fevereiro de 2025, uma técnica de enfermagem de 40 anos foi agredida dentro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Dourados. A usuária, insatisfeita com o atendimento, arremessou medicamentos no chão, empurrou a profissional e a puxou pelos cabelos. A Guarda Municipal interveio para conter a agressora, que apresentava sinais de embriaguez.
Paranoá (DF): Em janeiro de 2025, um casal agrediu fisicamente e verbalmente um enfermeiro, dois vigilantes e o gerente da UPA do Paranoá. O incidente teve início devido à insatisfação com o tempo de espera para atendimento. A Polícia Militar foi acionada e deteve os agressores.
Brasília (DF): Em janeiro de 2025, um delegado da Polícia Civil foi preso após atirar em sua esposa, na empregada doméstica e em uma enfermeira no Hospital Brasília. O incidente ocorreu após uma série de desentendimentos familiares.
Cabo de Santo Agostinho (PE): Em dezembro de 2024, uma técnica de enfermagem foi brutalmente agredida por dois indivíduos no Serviço de Pronto Atendimento (SPA) Gaibu. Os agressores, insatisfeitos com a demora no atendimento, atacaram a profissional física e psicologicamente.
Goiânia (GO): Em dezembro de 2024, uma enfermeira e um maqueiro foram presos de forma considerada truculenta pela Polícia Militar enquanto trabalhavam em uma maternidade. O incidente gerou debates sobre abuso de autoridade e violência contra profissionais de saúde.
Belo Horizonte (MG): Em dezembro de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma acompanhante na Unidade de Pronto Atendimento de Gaibú, no Cabo de Santo Agostinho. A agressão ocorreu devido à insatisfação com a demora no atendimento, agravada pela falta de materiais na unidade.
Piracicaba (SP): No final de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma usuária na Unidade de Pronto Atendimento do Piracicamirim. Durante a tentativa de aplicação de medicação intravenosa, a usuária se exaltou e atacou a profissional, que precisou de auxílio de colegas para conter a situação.
Campo Grande (MS): Em agosto de 2024, uma socorrista do SAMU foi agredida pelo filho de uma usuária durante um atendimento domiciliar. O agressor, insatisfeito com a suposta demora, desferiu um soco na profissional enquanto ela prestava socorro à sua mãe.
Avaré (SP): Em agosto de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma mulher, identificada como candidata a vereadora, no Posto de Saúde da Vila Jardim. A agressão ocorreu após a usuária reclamar sobre a qualidade do leite fornecido pelo programa “Viva Leite”.
Salvador (BA): Em julho de 2024, uma técnica de enfermagem de 36 anos denunciou ter sido agredida pelo filho de uma usuária durante um atendimento domiciliar no bairro da Ribeira. A agressão ocorreu enquanto a profissional preenchia o prontuário médico.
São José do Rio Preto (SP): Em abril de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma usuária na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte. A usuária, irritada, empurrou a funcionária durante a dispensação de medicamentos.
Franca (SP): Em abril de 2024, uma técnica de enfermagem do Pronto-Socorro Infantil foi agredida com um soco no rosto pelo pai de uma criança que estava sendo atendida. A profissional relatou sentir-se humilhada e desrespeitada.
Brotas (SP): Em março de 2024, funcionários da enfermagem do hospital local solicitaram medidas de segurança após uma série de agressões por parte de usuárias, destacando a necessidade de proteção no ambiente de trabalho.
Curitiba (PR): Em março de 2024, uma auxiliar de enfermagem faleceu após ser agredida por um usuária durante o expediente, ressaltando a gravidade das agressões sofridas por profissionais de saúde.
Santarém (PA): Em março de 2024, uma técnica de enfermagem do SAMU foi agredida por um homem durante um atendimento no centro da cidade. O agressor desferiu um soco na profissional sem motivo aparente.
Canguçu (RS): Em março de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida por uma usuária na Unidade Materno Infantil. A agressora já havia ameaçado a profissional anteriormente devido a desentendimentos relacionados a atendimentos passados.
Guarulhos (SP): Em fevereiro de 2024, profissionais de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Paulista relataram agressões por parte de usuários e acompanhantes, levando o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) a exigir apuração rigorosa dos fatos.
Campinas (SP): Em fevereiro de 2024, uma técnica de enfermagem foi agredida no Centro de Saúde Orozimbo Maia por um usuário insatisfeito com o atendimento. O Coren-SP emitiu nota de repúdio, enfatizando que a violência não resolve as deficiências do sistema de saúde.
*https://www.cofen.gov.br/levantamento-evidencia-violencia-contra-profissionais-de-enfermagem-no-df/
*https://www.cofen.gov.br/70-profissionais-sofreram-violencia/