Desafios da formação na América Latina passam pela desvalorização da profissão e falta de investimentos, afirmam palestrantes do 19º SENADEn
”A formação em Enfermagem na América Latina e as demandas do cuidado em saúde” foi tema de Mesa Redonda na manhã deste dia 12 de novembro, abrindo oficialmente as atividades do 19º Seminário Nacional de Diretrizes em Educação em Enfermagem no auditório Lago Azul, no Centro de Convenções de Goiânia (GO). As convidadas para o diálogo foram a Professora Dra. Olivia Inés Sanhueza Alvarado,da Facultad de Enfermería de la Universidad de Concepción/Chile e presidenta da Associação Latino-Americana de Escolas e Faculdades de Enfermagem (ALADEFE), e a Secretária Geral da Federação Panamericana de Enfermagem (FEPPEn), Hidália Rodrigues.
A exposição das duas convidadas foi antecedida pela apresentação do Trio Serra Dourada do Núcleo de Choro do Instituto Federal de Goiás, como parte do projeto Cuidado pela Música pensado pela organização do 19º Senaden. A música abriu o dia e a disposição das(os) congressistas, que aplaudiram a beleza do som e a iniciativa.
As duas professoras então trouxeram um amplo panorama da situação da enfermagem na América Latina, região que apresenta desafios semelhantes no que diz respeito a déficit de profissionais e falta de valorização e de investimentos na formação e nas condições de trabalho da Enfermagem.
A professora Olivia Alvarado trouxe avaliações sobre os desafios enfrentados pelas(os) profissionais da enfermagem durante a pandemia – condições extenuantes e precárias de trabalho, com perigo para a saúde das(os) enfermeiras(os), entre outros – e mostrou que a situação segue a mesma, quatro anos depois. “Ainda trabalhamos em condições inadequadas, com número insuficiente de profissionais para atender as demandas da população, com falta de apoio e tempo para aperfeiçoamento. Nosso trabalho ainda é desvalorizado do ponto de vista social e histórico. Mas nossa profissão exige alta qualidade, pois prestamos cuidados integrais centrados nas pessoas em todo o ciclo vital, mas a sociedade e os governos ainda não reconhecem essa importância”, afirmou a presidente da ALADEFE.
Olivia defendeu um modelo “salutogênico”, em oposição aos sistemas de saúde patogênicos e baseados em modelos biomédicos que predominam em nossa sociedade e na formação dos profissionais de saúde. Para ela, é preciso investir nas pessoas desde a infância, garantindo educação e condições de vida que promovam a saúde integral, assim como coerência nas políticas feitas pelas áreas da saúde, educação e fazenda dos países, para promover o bem estar de todos ao longo da vida. “Vamos enfrentar demandas cada vez maiores por causa do envelhecimento, do aumento de doenças transmissíveis por causa das mudanças climáticas, assim como na saúde mental da população”, afirmou a professora. “Por isso, precisamos inovar na formação e também sentar nas mesas de negociação e levar as questões da enfermagem para a construção de políticas públicas”, destacou.
A professora Hidália mostrou que existem nove milhões de profissionais de enfermagem na América Latina, o que corresponde a mais de 56% dos recursos humanos de saúde na região. Outro fator que mostra a desigualdade em nossa região é que apenas 10 dos 33 países da América Latina e Caribe oferecem programas de doutorado, e 75% desses programas estão no Brasil.
Para a professora Hidália, a formação na Enfermagem na América Latina e Caribe precisa de organização para garantir recursos e investimentos na formação ética, humana que aumente o número de profissionais para atender à crescente demanda social diante do envelhecimento da população e das mudanças sociais e ambientais. “Os países devem fazer uma avaliação geral e redesenhar os currículos para atender às necessidades da população. Além disso, recursos devem ser investidos na expansão de programas nos níveis de graduação e superior, definir cronogramas e estratégias para implementação de educação e competências mínimos”, afirmou a professora.
“O pessoal de enfermagem é fundamental para enfrentar as emergências de saúde e construir sistemas de saúde e resiliência e para conseguir isso investimentos em educação, emprego, liderança”, reforçou Hidália.