Novembro Azul: o machismo adoece e a Enfermagem pode mudar essa história

  • 1 de novembro de 2025
  • Livia

O Novembro Azul é um convite à reflexão sobre o cuidado com a saúde masculina — mas também sobre as barreiras culturais que ainda afastam os homens dos serviços de saúde. Embora a maioria reconheça a importância da prevenção, apenas 63% dizem se preocupar com a própria saúde e quase metade só procura atendimento quando já sente sintomas. Essa ausência de uma cultura preventiva revela um problema que vai além da rotina corrida ou da dificuldade de acesso: trata-se de uma questão social, histórica e de gênero.

Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que os homens vivem, em média, sete anos a menos que as mulheres. O motivo não está apenas em causas externas, como acidentes ou violência, mas também no adoecimento silencioso provocado por doenças crônicas e pela resistência em buscar ajuda médica. Segundo o artigo “Saúde do Homem: o machismo como fator de adoecimento” (Taís Santos et al., 2025), o machismo é um dos principais elementos que impedem o autocuidado. Desde a infância, muitos meninos são ensinados a acreditar que “homem não chora”, “não adoece” e “aguenta firme” — uma construção social que transforma o cuidado em sinal de fraqueza.

Esse comportamento afasta os homens das unidades básicas de saúde e faz com que cheguem tardiamente aos serviços, muitas vezes com quadros já agravados. “O medo de descobrir doenças e a crença na invulnerabilidade masculina impedem o diagnóstico precoce e a prevenção”, alertam os autores do estudo. A masculinidade hegemônica, marcada pela ideia de força e autossuficiência, cria um ciclo de adoecimento: o homem deixa de cuidar de si, o que o torna mais vulnerável às doenças, à violência e ao sofrimento mental.

A Enfermagem tem papel estratégico para romper esse ciclo. Profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde são fundamentais para acolher, orientar e sensibilizar os homens sobre a importância do cuidado contínuo. Mais do que executar procedimentos, a Enfermagem é ponte de diálogo — escuta, compreende e propõe caminhos para que os homens reconheçam suas vulnerabilidades e se tornem protagonistas da própria saúde.

Para isso, é essencial investir na educação em saúde e em estratégias que aproximem o público masculino dos serviços, como horários ampliados, ações nos locais de trabalho e campanhas que valorizem o autocuidado como atitude de coragem, e não de fraqueza. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) reforça que compreender as construções da masculinidade é condição para uma assistência efetiva e humanizada.

Neste Novembro Azul, a mensagem é clara: o machismo adoece — e desconstruí-lo é também uma forma de salvar vidas. A Enfermagem, com sua escuta atenta e compromisso com o cuidado integral, tem um papel decisivo nessa transformação. Cuidar da saúde é um ato de responsabilidade, amor próprio e liberdade.

Referência

FERREIRA DOS SANTOS, Taís Leandra; SANTOS ALVES, Lucas; MAIA GOMES RIBEIRO, Maria Juliete; CAMPOS SILVEIRA, Francisca Flávia; SILVA SANTOS, Jeferson Rodrigo. SAÚDE DO HOMEM: o machismo como fator de adoecimento. Revista Coopex., [S. l.], v. 16, n. 1, p. 7.715–7.733, 2025. DOI: 10.61223/coopex.v16i1.6314. Disponível em: https://editora.unifip.edu.br/coopex/article/view/6314. Acesso em: 29 out. 2025.