O papel das mulheres negras na história da enfermagem: celebrando Mary Seacole e Josephina de Mello
A enfermagem brasileira é composta majoritariamente por mulheres negras: enquanto 85% dos profissionais de enfermagem são mulheres, 53% delas são negras. Apesar de serem a espinha dorsal da saúde no país, essas profissionais enfrentam desafios históricos e estruturais, como a desvalorização, a concentração em cargos de nível técnico com remuneração mais baixa e o racismo estrutural no ambiente de trabalho. Reconhecer a trajetória de figuras como Mary Seacole e Josephina de Mello é essencial para dar visibilidade a essas histórias e promover a igualdade na profissão.
No Brasil, Josephina de Mello (1920–1995) é uma figura de destaque na enfermagem, especialmente no Amazonas. Negra e filha de uma enfermeira de Barbados, Josephina superou preconceitos para estudar enfermagem na Universidade de São Paulo (USP) em 1947. Ela não apenas desafiou o racismo que limitava o acesso de mulheres negras a escolas prestigiadas, como também ocupou espaços de liderança em saúde pública e educação. Seu trabalho impactou diretamente a formação de enfermeiras(os) e o acesso à saúde em regiões marginalizadas da Amazônia. Como educadora e gestora, deixou um legado que continua a inspirar. Você pode conhecer mais sobre a história de Josephina no artigo “A trajetória da enfermeira Josephina de Mello nas dimensões do processo de trabalho em Enfermagem”,, publicado pela presidenta da ABEn-AM, Nair Chase, na revista Here.
Mary Seacole (1805–1881), nascida na Jamaica, foi uma das primeiras enfermeiras a desafiar o racismo e o sexismo de sua época. Negra, filha de uma curandeira jamaicana e de um soldado escocês, ela combinava saberes tradicionais e conhecimentos médicos ocidentais. Durante a Guerra da Crimeia, Mary teve sua oferta de ajuda formal rejeitada por autoridades britânicas, mas financiou sua própria ida ao campo de batalha. Lá, abriu o “British Hotel”, um espaço para cuidar de soldados feridos, muitas vezes arriscando sua vida na linha de frente. Seu trabalho foi reconhecido pelos próprios soldados, que a chamavam de “Mãe Seacole”, embora, após a guerra, ela tenha enfrentado esquecimento e dificuldades financeiras.
Tanto Mary Seacole quanto Josephina de Mello são exemplos de como mulheres negras na enfermagem têm desempenhado papéis cruciais na história da saúde, mesmo enfrentando exclusões sistemáticas. Reconhecer essas histórias é essencial para valorizar as contribuições das mulheres negras e para reforçar a necessidade de equidade na profissão. É um passo em direção a um futuro mais justo, em que a maioria negra da enfermagem no Brasil não apenas sustente a profissão, mas também ocupe os lugares de destaque e reconhecimento que merece. Pelo reconhecimento, reparação e respeito a dignidade negra e as ancestralidades indígenas! Viva 20/11- Dia da Consciência Negra!