Reflexão da ABEn sobre a tragédia no Rio de Janeiro
A Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) manifesta profunda consternação e indignação diante da operação policial realizada no último dia 28 de outubro, nos Complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro — considerada a mais letal da história do estado. As cenas de horror vividas por moradores, com dezenas de mortos e feridos, entre civis e policiais, evidenciam o fracasso de um modelo de segurança pública baseado na lógica da guerra e da morte.
A ABEn reafirma seu compromisso com a vida e com os direitos humanos. Rechaçamos toda forma de violência institucional que transforma comunidades inteiras em territórios de exceção, onde a cor da pele e o CEP definem quem é tratado como cidadão e quem é tratado como inimigo. Esse modelo de ação não combate o tráfico, nem reduz a violência — apenas multiplica o sofrimento da população pobre e negra, que há décadas convive com o abandono e o medo.
Não há segurança sem justiça social. Não há paz sem políticas públicas que garantam educação, saúde, saneamento, cultura, esporte, lazer e oportunidades de trabalho digno. Enquanto as armas continuam entrando livremente nos portões dos condomínios de luxo, é nas favelas que o Estado despeja seu aparato de guerra — e é lá que crianças, jovens, mães e trabalhadores pagam com a própria vida o preço da omissão e da desigualdade.
A Enfermagem brasileira, presente em todos os territórios e atenta ao sofrimento das comunidades, reconhece que a violência é também uma questão de saúde pública. A chacina do Rio de Janeiro é expressão de um necroestado que insiste em tratar a pobreza como crime, e não como resultado de séculos de exclusão e negligência.
A ABEn se solidariza com os familiares das vítimas e com os(as) profissionais de saúde que enfrentam, mais uma vez, o desafio de cuidar em meio à dor e à barbárie. Reivindicamos a imediata apuração dos fatos, com transparência, identificação das vítimas e responsabilização dos agentes e gestores públicos envolvidos. E somamo-nos às vozes da sociedade civil que exigem o cumprimento da ADPF das Favelas e o fortalecimento do controle social sobre as forças de segurança.
É preciso romper o ciclo da morte e reconstruir o pacto civilizatório que sustenta a democracia e a solidariedade. O caminho da paz não passa pelo fuzil — passa pela vida.
Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn
Brasília, 29 de outubro de 2025



